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31/10/2025 22:44 | Colunistas
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por Bia Siqueira

O IPTU mais ilustre da cidade

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Imagina que sua avó paterna comprou, lá pelos anos 80, a casa onde você passou sua infância inteira e parte da vida adulta. Uma casa onde você e sua família viveram e da onde todos tem boas memórias. Uma casa grande, com um bom terreno, mas que também ficou alguns anos sem manutenção e algum outro tempo fechada.
Então, por uma peripécia da vida, um dos herdeiros, agora casado, precisa voltar a morar na casa. Só que agora com sua esposa e suas duas filhas caninas. Eles reformaram os muros, trocaram o portão, por questão de segurança, pois ambos não estavam em bom estado de conservação. Fizeram também outras poucas reformas necessárias para poderem começar a morar apenas, pois a casa ainda tem muitas coisas por fazer. Mas o mais importante é que seja segura para seus novos moradores.
Bom, no meio dessa reforma, marido e mulher foram verificar o IPTU da casa, pois sabiam que estavam em atraso, e foi aí, que a esposa levou um susto, quando ela leu no papel do imposto o nome de uma das moradoras mais ilustres que essa cidade chamada Campos dos Goytacazes já teve, Dona Finasinha. Ou melhor, Maria Queiroz de Oliveira.

“Filha de Benedito de Azevedo Queiroz e Teresa Linhares Tinoco Queiroz, donos de uma casa bancária situada na Praça São Salvador (onde hoje está o prédio do Banco do Brasil), Maria Queiroz recebeu o apelido de Finasinha quando pequena, por ter nascido no dia de Finados.
Finasinha nasceu em 1887, na chácara da família, localizada na rua Gil de Góis, sendo herdeira de algumas das famílias mais ricas de Campos do século XIX: Queiroz, Tinoco, Gregório e Linhares. Formou-se professora na Escola Normal de Campos, que na época funcionava no Liceu de Humanidades. Quando tinha 19 anos de idade, casou-se com o engenheiro e industrial Atilano Chrisóstomo de Oliveira, dono das usinas Mineiros e São Pedro do Paraíso.
Ao ficar viúva, em 1944, Finasinha assumiu o comando de todos os negócios do marido — empresas, usinas e imóveis. Notabilizou-se por participar e promover eventos sociais e culturais. Um destes eventos foi a Festa do Açúcar, na qual era escolhida a “Miss Usina”, evento que ocorria em agosto, durante a Semana do Santíssimo Salvador. Era comum a presença de autoridades federais, convidadas pessoalmente por Finasinha.
Ao mesmo tempo que tinha prestígio entre os poderosos, Finasinha atuava junto aos pobres. Costumava distribuir presentes todos os Natais, quando filas imensas se formavam em frente ao portão de sua casa. Também ajudava inúmeras entidades beneficentes de Campos. Foi escolhida como “madrinha” do Liceu de Humanidades de Campos, Polícia Militar, Associação de Imprensa Campista e Lira de Apolo. Na cidade de Campos dos Goytacazes, costumava ser chamada de “Rainha da Bondade” devido às suas ações beneméritas.
A vida de Finasinha sofreu um revés com a perda de sua única filha, Alice, em abril de 1970. Aparentemente, ela não conseguiu superar a perda, pois faleceu apenas alguns meses depois, em 18 de dezembro de 1970, aos 83 anos de idade. Alice não tivera filhos e Finasinha decide, antes de falecer, doar o palacete onde viveu por 52 anos à futura universidade de Campos. Vinte e três anos depois, era inaugurada a UENF, e o sonho de Finasinha pôde, enfim, ser realizado.
A partir de 08 de dezembro de 1993, o palacete passou a sediar a Casa de Cultura Villa Maria, centro cultural da Universidade.”¹

Fonte:
1 - https://uenf.br/portal/noticias/conselho-universitario-da-uenf-aprova-titulo-de-benemerita-para-finasinha-queiroz/

Após essa incrível descoberta, o casal visitou cartórios com a documentação de compra e venda e até a escritura do imóvel para ter a certeza de que essa parte estava correta. E para o alívio deles, sim, escritura válda e confirmada pelo cartório. E pasmem, a avó paterna do marido não comprou o imóvel de Dona Finasinha, mas sim de um outro casal, esse sim que devem ter comprado da ilustríssima cidadã campista. Afinal, anos 80, quem se importava em nome de quem estava o IPTU, não é mesmo? Bom, eu acho, talvez.
Porém, o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) em nome de outra pessoa, fez com que o casal não pudesse ainda renegociar os atrasados e pasmem novamente, eles precisam provar na justiça que a pessoa em questão já está falecida. Vou lembrar-lhes aqui que a pessoa em questão é a conhecida e querida Dona Finasinha, nascida em 1887. Mas bom, isso tudo já está em andamento e logo tudo estará resolvido. O que fica é uma história para contar, de quem já teve a casa com o IPTU mais ilustre da cidade.

O ilustre IPTU
(Bia Siqueira Rangel)

Finasinha era o seu apelido. Nasceu no dia de finados.
Pessoa ilustre e conhecida desse município de interior
Família de banqueiros, donos de muitas terras...
Falecida em dezembro de 1970
Figura entre os mais célebres munícipes da região.
Foi então a surpresa! Aquele nome na certidão
Quase não acreditei quando li:
Maria Queiroz de Oliveira. Escrito ali, no nosso carnê.
Nascida em 1887. Antes mesmo da criação do CPF
Nesta querida cidade, Campos dos Goytacazes, RJ.
E de tão ilustre figura, não quiseram retirá-la, do nosso IPTU.
Sobrou agora pra gente, essa tão singela pendenga
provar para a justiça, que esta tão conhecida benfeitora
nascida em 1887 e falecida em 1970,
realmente já não está aqui entre nós.
É, alguns precisam provar que continuam vivos
Já para outrem, a prova é ao contrário.
Cenário minimamente interessante, diria.

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💬 Comentários


Guilherme em 01/11/2025 11:50

Que história fascinante! É incrível como uma simples consulta ao IPTU pode revelar capítulos tão ricos da nossa memória local. Uma narrativa que mistura afeto familiar, identidade campista e uma figura histórica que tanto marcou Campos. No fim, além da burocracia, ficou também uma bela descoberta e uma lembrança afetiva para guardar e contar por gerações.