“É cada vez mais comum que adultos recebam o diagnóstico de algum grau do Transtorno do Espectro Autista (TEA). A condição neuro atípica, na maioria dos casos, está associada a dificuldades de interações sociais e engloba diferentes condições, marcadas por perturbações do desenvolvimento neurológico.
Descobrir-se dentro deste quadro clínico na idade adulta pode representar uma oportunidade de compreender as limitações enfrentadas ao longo da vida. Essas limitações podem abranger dificuldades de comunicação e interação social, resultantes de deficiências no domínio da linguagem e na capacidade de imaginação para lidar com jogos simbólicos, além de padrões de comportamento restritivos e repetitivos”.
Esses dois parágrafos acima, retirados da matéria intitulada: Descoberta do autismo na vida adulta pode ser uma chave para o autoconhecimento, do site do Conselho Federal de Enfermagem, consegue resumir um pouco do que a gente sente quando recebe o diagnóstico tardio do autismo.
Imagina levar quase 40 anos para descobrir quem você é? E isso te levar inicialmente a mais perguntas que respostas. Foi isso que aconteceu comigo e provavelmente com muitas outras pessoas. Adultos que passaram a infância muito possivelmente ouvindo coisas do tipo: “Você é neurótico” ou “Você é muito chato e esquisito” ou ainda “Para de ser metódico”.
Uma das primeiras perguntas que me fiz foi: Quem sou eu de verdade? O que eu faço porque gosto e o que faço para me encaixar e não ser vista como antipática, antissocial, neurótica ou chata? Muitas coisas passaram pela minha cabeça. Lembranças de acontecimentos do passado, de todas às vezes que saí sem querer sair, de shows que fui sem gostar, das dores que sentia e pensava ser “normal” e por isso tinha que aguentar, de todas às vezes que fui chamada de estranha, diferente, entre outros. De como nunca me senti pertencente.
E de repente me vi pensando sobre todas essas coisas, ao mesmo tempo que entendia que se você não veio com aquele “estereótipo padrão”, as pessoas não te consideram autista, te olham torto, te falam na cara que “Você não tem cara de autista”. Não é fácil se descobrir com um transtorno, não é fácil lidar com a falta de conhecimento e empatia de muitas pessoas, como também não é fácil lidar com a invisibilidade de ser um adulto autista nível 1 de suporte, afinal de contas, a gente já cresceu, trabalha, pagamos nossas contas, vivemos uma vida “normal”. O que a maioria não vê ou não quer enxergar, é o esforço que fazemos para parecer o mais “normal possível”, para se encaixar nesse contexto de “normalidade”, dos traumas que carregamos, do quão difícil é todos os dias.
Como diz a Dra° Elizangila Leite, mestra em Transtorno do Espectro Autista:
“Quando te falarem: 'Todo mundo é um pouco autista; responda: Não! Pensar assim é o mesmo que dizer que todo mundo que tem tosse, tem um pouco de pneumonia, que quem esquece o celular tem um pouco de TDAH, ou que todo mundo com o olho puxadinho é um pouco japonês'. Não faz sentido, né? Então pare de falar besteiras!”
E como sabem, essa coluna é sobre as minhas experiências, vivências e sentimentos, e não poderia faltar um poema. Esse que fiz para tentar externalizar o que sentia e sinto, e que talvez tenha significado também para você, que o lê agora.
Nível Um
(Bia Siqueira Rangel)
Como se fazer entender?
Como dizer as pessoas que precisamos de suporte?
Um suporte que não é aparente, que é invisível aos olhos...
Como demonstrar a importância desse suporte?
Dizer que ele faz falta, que sem ele a vida é mais pesada,
mais difícil...
O sofrimento do nível um é tão invalidado quanto negligenciado
Nossa vida é um eterno limiar
entre o “viver normalmente” e o sobreviver
Porque quando falamos do que precisamos,
o mundo inteiro parece virar as costas...
E aí, às vezes a gente grita!
Mas se adulto, dizem que você não parecer ser ou ter
e se menor for, você não existe, não é visto.
Resta-nos talvez, apenas Gritar!
Gritar que existimos,
Gritar pelo que precisamos.
Mostrar que nascemos e principalmente, crescemos...
Somos adultos, crianças, jovens, adolescentes...
Estamos aqui para dizer,
Somos capazes, mas precisamos de vocês.
Fontes:
https://www.cofen.gov.br/descoberta-do-autismo-na-vida-adulta-pode-ser-uma-chave-para-o-autoconhecimento/
https://www.instagram.com/dra.elizangilaleite/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2025-02/sindrome-de-asperger-entenda-por-que-o-termo-nao-e-mais-usado
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Você e uma joia,teu brilho transmite paz alegrias, segurança aos que te amam, como Eu
Você e uma joia tão lapusada
Excelente artigo, Bia!
Eu tenho um filho que é nível 1 de suporte e eu luto para que ele seja um adulto funcional, fazendo tudo o que está a meu alcance para a evolução constante dele.